Métodos, estratégias e o Espírito Santo

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013


               Os primeiros cristãos não tinham sequer uma bíblia, e foram verdadeiros embaixadores de Cristo na Terra. Em nossos dias, nos sentimos incapazes de levar amor aos perdidos só porque não sabemos tocar um instrumento ou porque não sabemos teologia o suficiente.
               O contraste das duas situações é muito grande. Este contraste me leva a concluir que o problema não está nos métodos, nos recursos, ou nas estratégias. O problema está na frieza do homem moderno. O problema está em sua presunção e sua dependência de incontáveis coisas, pessoas e situações, que não seu Deus. Mas tendemos a pensar que, se o ministério não cresce ou se a nossa vida não dá o fruto que pensamos que ela deve dar, a culpa é de nossos métodos limitados.


               Esse pensamento humanista vai moldando nossas ações, como indivíduos e como igreja também. É simplesmente muito vívido e extremamente visível. Por exemplo, quando pensamos a respeito de como poderíamos servir melhor na igreja, já vamos logo pensando em aperfeiçoar nossos dons - se vou servir no louvor, estudo mais música; se vou servir no teatro, aperfeiçoo minha técnica, etc. Quando nos sentimos chamados ao campo missionário ou ao evangelismo, logo buscamos cursos que nos preparem, e que nos ensinem como ser missionários e evangelistas. São atitudes erradas? Não são erradas por si mesmas. Porém não podem ser atitudes certas se não estamos buscando a Deus com tudo o que somos, e dependendo dEle para cumprirmos nosso papel de servos de Deus neste mundo. Posso dizer que dependo, sim, de Deus para fazer qualquer obra que seja. Mas se, na minha vida prática, estou gastando mais tempo no aperfeiçoamento dos métodos do que na minha vida diária e íntima com Deus, talvez seja a hora de rever se estou vivendo aquilo que prego.
               Podemos dizer que, ao nos preocuparmos com os métodos, estamos nos preocupando com um meio para atingir um fim. E o fim é salvar as almas. Okay. Muito nobre de nossa parte, não? O problema é que o único meio legítimo para atingir este fim é a ação sobrenatural do Espírito Santo. Podemos e devemos nos valer de estratégias. Mas sem a ação do Espírito Santo, nossos métodos apenas servirão para encher os bancos das igrejas de pessoas mortas espiritualmente.
               E a grande verdade é que o Espírito Santo age mais quando nós aparecemos menos. Para entender o que eu quero dizer, é só se lembrar de João Batista, quando ele dizia que o ideal era mais notoriedade para Jesus e menos notoriedade para ele mesmo. Outro exemplo do Espírito Santo agindo mais quando nós aparecemos menos é quando Paulo diz que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza. João Batista e Paulo tinham métodos, com certeza. Mas os métodos eram meras consequências da obra sobrenatural que o Espírito Santo estava operando no íntimo desses homens fracos e dependentes de Deus.
               Se, por algum motivo, você ainda pensar que homens de fé valorizavam tanto assim seus métodos e estratégias, lembre-se de que Paulo considerou como fezes de animal todas as coisas boas que o qualificavam para ser um cristão com os melhores métodos possíveis. Ele fez isso, não porque os métodos e estratégias eram coisas ruins, mas porque ele preferia depender do poder sobrenatural de Deus que se manifestava em sua fraqueza e inabilidade.


               Enquanto dependermos destas coisas exteriores às quais os corações de homens como João Batista e Paulo não se apegavam, viveremos de muitas formas, menos da forma que eles viveram e que tanto almejamos. As dependências de métodos, situações, momentos, etc. são perigosas porque podem ser muito sutis e podem vir disfarçadas de uma preocupação legítima com a melhor forma de levarmos a obra de Deus a cabo. Mas não devemos nos enganar. Tais dependências mortificam a única dependência que o homem moderno, tal qual os primeiros cristãos, deveria viver: a dependência da graça e do amor de Deus, revelados em Jesus. Revelados na cruz.

Conversa inconveniente com Deus

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013




        Começo a orar e percebo que não estou sendo sincero. Eu discordo do que acabei de Te dizer, mas o disse porque era a "coisa certa" a fazer. Esta é a habilidade humana e depravada de interpretar um papel. Por entender o que é conveniente (mesmo que não seja a verdade), assumimos aquela identidade falsa. Em outras palavras, hipocrisia. Hipocrisia que nasce em nosso desejo de ser aceito. Nosso desejo de "passar na prova".
        Porém não é assim que eu quero me apresentar a Ti, Deus. O Senhor conhece tudo o que sou. Quando falo contigo, não devo tentar ser conveniente ou simplesmente dizer a "coisa certa" para Te impressionar.
      Que tolice a minha, Pai. Perdoa minha hipocrisia e desfaz minhas defesas. Quando eu orar, não quero falar coisas com as quais não concordo. Por mais que eu devesse, talvez, concordar para ser aceito ou "passar na prova". O Senhor está interessado num coração quebrantado e sincero. Quando eu orar, então, que eu derrame o meu coração diante do Senhor, me rasgando em sinceridade com a pobreza de espírito que me leva a reconhecer que o Senhor está certo sempre, e eu estou quase sempre errado.
         Se eu interpretar um papel, teremos um diálogo civilizado demais para gerar qualquer mudança. Será muito polido e diplomático, a ponto de impedir a transformação do meu ser. Não é o que eu quero.
         Rasgar meu coração, ser sincero e inconveniente ao encarar meu próprio eu a luz de Tua glória, com certeza não é uma atitude ponderada, e nem um pouco tranquila como a atitude de uma conversa civilizada. A luta de alguém que se rasga diante de Ti não é algo bonito de se ver. As verdades ditas em orações verdadeiras são verdades capazes de escandalizar toda uma congregação de crentes piedosos. Mas o resultado, tenho certeza, é glorioso. O resultado é a humilhação do nosso eu e o aperfeiçoamento da imagem do próprio Jesus em nós.
        Só seremos aperfeiçoados em Jesus a medida que anulamos nosso eu. E é por isso, Pai, que meu desejo é fazer orações sinceras diante do Senhor. Por mais que a exposição e oferta do meu coração diante do Senhor seja uma experiência dolorosa e, de certo modo, feia, essa exposição é o caminho que trás ao meu ser o prazer e a beleza de viver em união e intimidade contigo, meu Deus. Por favor, me ajude.