Invisível (Por que eu não prego o evangelho?)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A pregação do evangelho não é mera obrigação moral Mesmo assim, pareço pensar o contrário quando olho pras minhas atitudes (Ou a falta delas, como no caso da pregação) Qual, então, o motivo? Creio que o problema não seja algo visível Jesus disse que árvore zuada não dá fruta boa E pé de manga não faz nascer morango Mas, se eu já nasci de novo, a minha raíz é outra Eu não sou mais uma árvore zuada, certo? Certo! O Espírito me deu vida e me capacitou para as boas obras Mas só posso praticá-las se eu for um galho enxertado na Videira Verdadeira Todo esse processo, esse ensino que parece complicado Na verdade foi garantido Junto do sacrifício de Cristo Já nos foi tudo doado Só me basta confiar Confiar e caminhar E então, aqui tá meu problema - como eu disse, não é visível Confiar parece fácil, mas sem fé não vai rolar E se a base das minhas atitudes não é fé, estou pecando Sem fé, é impossível agradar a Deus Além disso, toda obra visível que não nasce, primeiro Como fruto da fé invisível É pecado Confiar, ter fé Que a mão de Deus se move À medida que me disponho a Seu serviço Na pregação do evangelho, parece ser difícil Crer no amor de Deus pelas almas dos eleitos É até mesmo impossível Acreditar cegamente no milagre do novo nascimento E que ele acontece A despeito das minhas fraquezas na pregação Também parece loucura São coisas que, no nível natural, cotidiano Parecem tão comuns quanto cozinhar, e andar de ônibus Mas lá no fundo, no nível invisível A pregação demanda uma confiança sobrenatural No poder, no amor, na graça e na empatia de Deus Por tratar a pregação do evangelho Como algo tão comum quanto cozinhar É que eu peco, não tendo a fé que agrada a Deus E que deve me levar De joelhos, a um estilo de vida de total dependência do poder do Espírito Poder, esse, que ressuscitou Jesus E que ressuscita - ou faz renascer A todos quantos o recebem Às vezes não me dou conta que pregar o evangelho Não se trata de boa retórica, ou de usar argumentos corretos Se trata de anunciar a salvação, que só acontece De forma assustadoramente sobrenatural Invisível Não se trata de persuadir pessoas a dizerem sim pra minha mensagem Para que, visivelmente, uma conversão seja reconhecida na Terra Se trata de ter fé no poder do evangelho de Jesus Ele, de forma invisível, recebe e transforma criaturas em filhos, reconhecidos no Céu Que Deus perdoe minha falta de fé Pois ela me faz permanecer inerte Sem compromisso firme com o avanço do Reino Através da pregação do evangelho

Versículos que parecem não nos atingir

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Alguns versículos parecem soar para nós como afirmações que se aplicam de forma seletiva. É como aquelas medicações que mulheres grávidas são proibidas de tomar: se você é homem, ou é mulher e não está grávida, não há porque se preocupar. Mas se acreditamos que na Bíblia temos a verdade, será que é possível condicionarmos algumas passagens como sendo aplicáveis a apenas determinadas pessoas e situações? É claro que os textos bíblicos precisam ser lidos e compreendidos dentro de seus diversos contextos históricos, semânticos, etc. Mas será que não temos recortado verdades bíblicas tão simples e fáceis de serem entendidas, pegando carona nos conceitos pós-modernistas a respeito do absoluto – “o que é verdade para você pode não ser para mim” –, selecionando quais afirmações bíblicas fazem sentido e quais não podem ser interpretadas de forma “radical”. Pensando nisso, gostaria de colocar em discussão algumas passagens que podem ter tido seu significado simples perdido em nome do “bom-senso” que pensamos ter ao dialogarmos, como cristãos, com o mundo.

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E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas.
Lucas 12:15

A vida não depende dos bens que um homem possui. Todos nós parecemos concordar com isso. E não apenas entre cristãos. Apesar do apelo das grandes corporações em favor do consumo, com o apoio da mídia, ainda assim uma coisa é consenso entre [a maioria das] pessoas religiosas e não religiosas: é correto e até nobre reconhecer que nossa qualidade de vida depende de outros fatores que vão muito além do tamanho da nossa casa, da quantidade de carros na garagem, etc. Com o setor de autoajuda sendo um dos mais procurados em qualquer livraria, perceber que a verdadeira prosperidade vai além dos bens materiais não tem sido nenhum néctar sagrado da sabedoria.

Mas, como diz uma personagem da minha série favorita, “o diabo está nos detalhes”. 

E, nos detalhes, vamos deixando a avareza entrar. Não temos problema em reconhecer que a ostentação material é sinal de vazio, atitude reprovável; não temos medo de condenar personalidades que esbanjam dinheiro como se fosse água não potável, como o boxeador Floyd Mayweather, por exemplo. Mas qual é nossa atitude quando vamos negociar a venda daquele móvel usado? Como temos agido em relação aos que nos devem dinheiro? E quando o locador deseja cobrar qualquer taxa que julgamos ser responsabilidade dele?

Vamos pensar no contexto desta passagem em Lucas. Um jovem pede que Jesus interfira em sua negociação com seu irmão, a respeito de uma posse, de um bem. Jesus não levanta o questionamento se o jovem está correto ou não naquilo que está buscando resolver. Mas Jesus aponta o perigo que está rondando e pode estar sendo subestimado: o pecado da avareza. Reconhecemos a avareza em astros de Hollywood ou nos políticos corruptos. Mas será que podemos enxergar a avareza no coração deste jovem, com um pedido simples como este? Quantos pedidos parecidos não estamos levando até Jesus? Pedidos que revelam o conteúdo de nossos corações, cheios de preocupações com questões materiais; passageiras.

 Será que podemos reconhecer a avareza em nós, tão facilmente quanto percebemos a avareza exposta no noticiário ou no site de fofoca? Será que eu não sou avarento só porque não esbanjo dinheiro como estas “pessoas vazias” que estão na mídia? Com certeza a maioria dos que vão ler este texto, assim como eu, não são considerados avarentos aos olhos do mundo. Mas Jesus está sempre elevando o nível moral das coisas a outro patamar em sua pregação: “cobice em seu coração e será tido por adultero”, “xingue de idiota e será tido por assassino”. E aqui não parece ser diferente com relação à avareza: “preocupe-se com as coisas materiais mais básicas, e não será diferente de nenhum daqueles homens que você julga pecadores e mundanos. Você pode não ser tão avarento quanto eles, mas quem peca precisa de mim independente de medidas de pecado”.

             Graças a Deus que Jesus continua o assunto e no versículo 22 Ele nos ensina a partir de um esclarecedor “portanto”; ou seja, se a avareza é assim tão perigosa e sutil como ele está explicando, Ele também está pronto a nos mostrar o caminho que nos afasta deste pecado. E a partir deste “portanto” Ele nos dá um ensinamento muito precioso: 

             Não é sábio estarmos inquietos a respeito das necessidades materiais. Não é essa a postura das ovelhas do Tão Cuidadoso Pastor, chamado Jesus.

            O que deve ocupar nossa mente então? No verso 31 Jesus explica: devemos buscar o Reino de Deus, as coisas eternas. Tantas outras coisas deveriam nos preocupar. Coisas muito mais graves do que nossas necessidades materiais, a respeito das quais tanto nos inquietamos e que mesmo assim sempre são supridas. É mais importante interceder pelos que estão sofrendo muito mais do que nós. É mais importante pedirmos a Deus que nos livre da hipocrisia e do cinismo, do que pedirmos que Ele nos livre de passar fome. São a hipocrisia e o cinismo que podem nos afastar de Deus.

           Na prática é difícil. Tão difícil que essa proposta de não nos preocuparmos com coisas materiais chega a ser vista como coisa de "bicho grilo", "eremita", até mesmo por cristãos. Isso é por causa de um outro pecado, chamado mundanismo (mas sobre esse a gente fala outra hora).

          É difícil e até mesmo impossível cumprir os ensinamentos de Jesus, mas é por isso que Ele deu muito mais do que ensinamentos: Ele nos deu o exemplo. E mais ainda do que o ensinamento e o exemplo, Jesus nos deu Sua vida perfeita, sem mancha de pecado. Ao crermos nEle, buscarmos Sua face, Ele nos concede Seu Espírito e nos capacita a vencermos o pecado. Sem Ele não podemos alcançar nada. E com Ele podemos vencer, não só a avareza, mas todos estes males que tem muito mais a ver com coisas invisíveis do que com problemas materiais temporários. Em Cristo, podemos vencer todos estes males que, antes de enxergarmos no outro, devemos enxergar em nós mesmos. Posso não ser tão avarento quanto Floyd Mayweather, mas também carrego minha medida de avareza. 




Dois Absurdos

terça-feira, 5 de agosto de 2014

"Como pode tanto amor?", frequentemente nos perguntamos.
Mas essa pode ser uma reflexão muito rasa se não nos perguntarmos primeiro "Como pode tanto pecado?".

A Bíblia nos revela a dimensão "absurda" do amor de Deus, mas não sem antes nos expor como pecadores absurdamente perdidos, em posição de total incapacidade, de morte espiritual.

Alegria, Prazer e a Lei de Deus (Parte II)

quarta-feira, 23 de abril de 2014


Na passagem de Ne 12:44-47, o povo está cumprindo a Lei. O final do versículo 47 nos mostra a motivação do coração do povo: “pois Judá estava alegre”. Nos dias de Esdras e Neemias, quando o povo reconstruiu os muros da cidade santa, havia alegria. Quando o povo reconstruiu o templo que glorificava o nome de Deus, havia alegria. Quando o povo reestabeleceu a ordem e a decência, não só no culto a Deus, como também em todas as rotinas e em toda a cultura deles, havia alegria. O povo se alegrou com as bênçãos de Deus que, em meio às dificuldades, reergueram a identidade deste povo. A identidade do povo estava diretamente ligada à glória de Deus. O povo entendeu isso. O povo se alegrou por glorificar a Deus.
O povo também entendeu algo a mais nestes dias: eles entenderam o propósito da Lei perfeita de Deus. Ao se alegrar com a glória de Deus, o povo participou do próprio coração do Senhor. O coração de Deus se alegra em abençoar, em dar provisão, em cuidar do outro. A Lei vem do coração de Deus, portanto a Lei também tem essas características. Jesus disse que toda a Lei se resume no amor. Amor a Deus e amor ao próximo. Foi exatamente o que o povo de Deus entendeu ao entregar os dízimos, as ofertas e as primícias para o sustento e para a honra de todos aqueles que viviam vidas de serviço diante de Deus e dos homens.
O povo estava alegre, e isso os levou a cumprir a Lei. Nesta passagem, como em tantas outras da Bíblia, vemos o prazer e a Lei de mãos dadas (cf. Sl 119). Que vergonha para nós, evangélicos! Que vergonha para nós, que entregamos uma parte do nosso salário para uma instituição por termos medo de Deus. Cumprimos a Lei por medo enquanto pessoas que sequer conheciam o evangelho pleno e gracioso de Jesus cumpriram a Lei por pura e simples alegria. Devemos nos arrepender deste terrível pecado!
Que vergonha para nós, evangélicos, que damos dinheiro pensando no dinheiro que “voltará em dobro” para nós. Não damos pela alegria de dar. Ter a chance de ser um abençoador não é motivação suficiente para os corações carnais da maioria dos evangélicos do Brasil. É por isso que os líderes, igualmente carnais, acabam incutindo medo nos fiéis. O sincretismo religioso impera nos cultos evangélicos enquanto os fiéis ouvem ensinos aprisionadores sobre como os poderes das trevas terão poder sobre a vida dos supostos discípulos de Jesus, caso estes supostos discípulos estejam “fora da visão”.

Eu tenho um recado a estes enganadores que minimizam o poder da obra de Cristo com suas leis humanas de medo e barganha: se a tal “visão” é dar com vistas ao receber, se a tal “visão” é dar para ser “abençoado”, se a tal “visão” é tentar comprar a Deus com os trapos fétidos e apodrecidos da justiça própria das obras humanas, eu terei orgulho de estar “fora da visão”. Estarei fora de qualquer visão que não me inspire a amar de forma altruísta e a me alegrar diante da glória de Deus.
Eu não tenho a resposta perfeita. Eu não sou melhor do que ninguém. Mas eu prefiro aprender a seguir a Lei perfeita de Deus com alegria, gratidão e amor em meu coração carente de Sua Graça. Eu prefiro aprender a abençoar porque já sou abençoado. Eu prefiro aprender com Jesus, que me ama sem se preocupar com meu retorno a este amor. Eu prefiro aprender com o Deus que se entrega totalmente por mim, sem esperar nada em troca.
Deus dá, abençoa, supre e Se entrega simplesmente porque Seu prazer e Sua alegria estão nestas coisas. Ele nos chama para termos a mesma motivação. O mundo e a religião morta dão para poder receber; Jesus e seus discípulos dão porque já receberam. O mundo e a religião morta cumprem leis por medo e por interesse; Jesus e seus discípulos cumprem a Lei porque este é seu prazer, e sua alegria. É tempo de escolhermos de que lado estamos.

Alegria, Prazer e a Lei de Deus (Parte I)

terça-feira, 22 de abril de 2014


"Ainda no mesmo dia, se nomearam homens para as câmaras dos tesouros, das ofertas, das primícias e dos dízimos, para ajuntarem nelas, das cidades, as porções designadas pela Lei para os sacerdotes e para os levitas; pois Judá estava alegre, porque os sacerdotes e os levitas ministravam ali;
e executavam o serviço do seu Deus e o da purificação; como também os cantores e porteiros, segundo o mandado de Davi e de seu filho Salomão.
Pois já outrora, nos dias de Davi e de Asafe, havia chefes dos cantores, cânticos de louvor e ações de graças a Deus.
Todo o Israel, nos dias de Zorobabel e nos dias de Neemias, dava aos cantores e aos porteiros as porções de cada dia; e consagrava as coisas destinadas aos levitas, e os levitas, as destinadas aos filhos de Arão."

Neemias 12:44-47


                Nós tendemos a pensar que a Lei e o prazer não podem andar juntos. Pensamos exatamente o contrário: “quanto mais eu desejo ter prazer, menos religião, menos princípios e menos leis devo seguir”. Talvez seja por isso que, em nossos dias, os líderes evangélicos passaram a um ensino sobre a Lei que conduz os fiéis através do medo, da insegurança, da barganha com Deus, entre outras motivações malignas rumo a um suposto relacionamento com Deus que não passa de mera religiosidade.

                Aprendemos, na maioria das igrejas evangélicas, a seguir a Lei por inúmeros motivos, menos pela alegria da salvação ou pela gratidão que temos a Deus por já sermos, no tempo presente, abençoados. Isso não poderia ser mais verdade no campo específico do ensino sobre dízimos, ofertas e primícias. Se você está imaginando se isso é um ataque a este ensino específico, permita-me esclarecer algo: este é um ataque, com toda a certeza.
                
                Escrevo estas linhas como uma forma de ataque, pois julgo ser um ataque necessário. Mas este não é um ataque no campo de batalha onde discutem se é certo ou errado cobrar e/ou dar o dízimo. Esta não é a questão mais relevante. O meu ataque é em outro campo de batalha, muito negligenciado ultimamente: as motivações por trás das atitudes dos evangélicos. Esta é uma questão, na minha opinião, muito mais importante do que a questão sobre se é certo ou errado dar o dízimo.

[...]

Isaías 55:1-2

segunda-feira, 17 de março de 2014



Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura.


Isaías 55:1-2

Falhas que aproximam

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

                 Não faço o que quero
                 Se eu olho pra mim
                 Então me desespero
                 Não sei aonde ir
                 Peço, então me despeço
                 Do eu. Do meu eu que eu não quero

                 Pedindo, prossigo
                 E vou me despedindo
                 Pedindo a Tua vida em mim
                 Não desisto
                 De, enfim, desistir
                 Do eu. Do meu eu que eu não quero

                 Por onde, fazer
                 Do mérito eu falo
                 Não vou merecer
                 Mas, querendo, resvalo
                 E prossigo a deixar-me aos caprichos
                 Do eu. Do meu eu que eu não quero

                 Complico e me enfado
                 A mim mesmo, com o fardo
                 Que o Mestre não quer que eu carregue
                 Tarefas, horários. E segue-se o ócio
                 Do tolo que tenta ser forte
                 Do eu. Do meu eu que eu não quero

                 Se eu puder, tão somente, parar
                 Se eu puder, de Ti, Mestre, lembrar
                 Mergulhar neste amor, sem tentar merecer
                 Teu favor, Teu olhar de prazer
                 Que invade o profundo
                 Do eu. Do meu eu que Tu queres